Modelo de Recurso de Apelação em ação de busca e apreensão de veículo por inadimplemento, pleiteando nulidade da notificação extrajudicial, ausência de interesse processual da Apelada e restituição do bem à Apelante mo...

Publicado em: 10/07/2025 CivelProcesso CivilConsumidor
Modelo de Recurso de Apelação em ação de busca e apreensão movida por instituição financeira contra motorista de aplicativo, com pedido de reconhecimento da ausência de regular constituição em mora, ausência de interesse processual da Apelada, aplicação do Código de Defesa do Consumidor, nulidade da apreensão do veículo e restituição do bem, fundamentado nos princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e devido processo legal, além de requerer gratuidade de justiça e condenação em custas e honorários.
← deslize para o lado para ver mais opções

RECURSO DE APELAÇÃO

1. ENDEREÇAMENTO

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da ... Vara Cível da Comarca de ...
(Conforme competência, direcionar ao Juízo da Vara Cível onde tramitou a ação originária)

Autos nº: [inserir número do processo]
Apelante: M. J. dos S.
Apelada: Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A

2. PREPARO

Requer-se, desde já, o reconhecimento do benefício da gratuidade de justiça, nos termos do CPC/2015, art. 98, uma vez que a Apelante é pessoa física, motorista de aplicativo, e não possui condições de arcar com as custas e despesas processuais sem prejuízo do próprio sustento e de sua família. Caso Vossa Excelência entenda pela necessidade de recolhimento do preparo, requer-se a intimação para complementação, conforme entendimento consolidado (TJSP, 32ª Câmara de Direito Privado, Apelação Cível 1030663-27.2023.8.26.0577).

3. TEMPESTIVIDADE

A presente Apelação é tempestiva, pois interposta dentro do prazo legal de 15 (quinze) dias úteis, conforme dispõe o CPC/2015, art. 1.003, §5º, contado da intimação da sentença de mérito que julgou procedente o pedido de busca e apreensão.

4. DOS FATOS

M. J. dos S., motorista de aplicativo, firmou com a Apelada contrato de financiamento para aquisição de veículo Chevrolet, tendo pago 50% do valor do bem como entrada. Por dificuldades financeiras, atrasou o pagamento das duas primeiras parcelas do contrato renegociado. Em razão desse atraso, a instituição financeira ajuizou ação de busca e apreensão, que resultou na apreensão do veículo.

Em contestação, a Apelante sustentou que não foi regularmente constituída em mora, pois as tentativas de entrega da notificação extrajudicial restaram frustradas, não se podendo presumir a ciência da mora. Alegou, ainda, ausência de interesse processual da Apelada, que não buscou solução amigável antes de recorrer ao Judiciário, e a desproporcionalidade da medida, considerando o pagamento substancial do valor do bem.

Não obstante tais argumentos, a r. sentença julgou procedente o pedido da instituição financeira, consolidando a posse e propriedade do veículo em favor da Apelada, sob o fundamento de que a mora estaria caracterizada e não teria havido purgação no prazo legal.

Inconformada, a Apelante interpõe o presente recurso, buscando a reforma da sentença por violação aos princípios do contraditório, ampla defesa, legalidade e devido processo legal (CF/88, art. 5º, incisos II, XXXV, LIV e LV).

5. DO DIREITO

5.1. DA NECESSIDADE DE REGULAR CONSTITUIÇÃO EM MORA

O Decreto-lei 911/1969, art. 2º, §2º, exige, para a propositura da ação de busca e apreensão, a constituição do devedor em mora por meio de notificação extrajudicial enviada ao endereço constante do contrato. A jurisprudência do STJ (Tema 1132, REsp 1.951.888/RS/STJ) consolidou o entendimento de que basta o envio da notificação ao endereço indicado, sendo desnecessária a prova do recebimento pessoal.

Contudo, no caso concreto, restou incontroverso que as tentativas de entrega da notificação foram frustradas, não havendo comprovação de que a Apelante teve ciência da mora. A ausência de efetiva notificação não pode ser suprida pela mera remessa da correspondência, quando não há sequer recebimento por terceiros ou devolução com informação de recusa. O princípio do contraditório e da ampla defesa (CF/88, art. 5º, LV) exige que o devedor tenha ciência inequívoca da mora para que possa exercer seu direito de purgá-la.

Ademais, a jurisprudência admite, excepcionalmente, a descaracterização da mora quando comprovada a ausência de notificação válida ou quando o devedor demonstra ter quitado as parcelas em atraso antes da consolidação da posse (STJ, REsp 1.933.739/RS).

5.2. DA INEXISTÊNCIA DE INTERESSE PROCESSUAL E DA BUSCA DE SOLUÇÃO AMIGÁVEL

O interesse de agir pressupõe a necessidade e a utilidade da tutela jurisdicional. No caso, a Apelada não demonstrou ter buscado solução extrajudicial para o suposto inadimplemento, optando diretamente pela via judicial, em afronta aos princípios da razoabilidade, proporcionalidade e cooperação processual (CPC/2015, art. 6º e art. 8º). Tal conduta viola a boa-fé objetiva (CCB/2002, art. 422) e a função social do contrato (CCB/2002, art. 421), especialmente considerando que a Apelante já havia quitado metade do valor do bem.

5.3. DA APLICAÇÃO DO CÓDIGO DE DEFESA DO CONSUMIDOR

A relação entre as partes é de consumo, aplicando-se o CDC (Lei 8.078/1990, art. 2º e 3º), conforme entendimento pacífico (TJRJ, Apelação 0023962-85.2021.8.19.0204). Isso impõe a observância dos princípios da vulnerabilidade do consumidor, da transparência e do equilíbrio contratual, devendo eventuais dúvidas serem interpretadas em favor da parte hipossuficiente.

5.4. DO ADIMPLEMENTO SUBSTANCIAL E DA DESPROPORCIONALIDADE DA MEDIDA

Embora o STJ tenha firmado entendimento pela inaplicabilidade da teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária (REsp 1.622.555/MG), a análise da proporcionalidade da medida deve ser feita à luz das circunstâncias do caso concreto, especialmente diante do pagamento de 50% do valor do bem e da função social do contrato (CCB/2002, art. 421). A medida extrema da busca e apreensão não se mostra razoável diante do histórico de adimplemento substancial e da ausência de tentativa de composição amigável.

5.5. DA PURGAÇÃO DA MORA E DO DIREITO À RESTITUIÇÃO DO BEM

O Decreto-lei 911/1969, art. 3º, §§1º e 2º, confere ao devedor o direito de purgar a mora em cinco dias após a execução da liminar, mediante o pagamento da integralidade da dívida. No caso, a Apelante não foi regularmente notificada, o que inviabilizou o exercício desse direito. A ausência de notificação válida impede a consolidação da posse e propriedade do bem em favor da credora, devendo ser restituído o veículo �"'>...

Para ter acesso a íntegra dessa peça processual Adquira um dos planos de acesso do site, ou caso você já esteja cadastrado ou já adquiriu seu plano clique em entrar no topo da pagina:


Copyright LEGJUR
Todos os modelos de documentos do site Legjur são de uso exclusivo do assinante. É expressamente proibida a reprodução, distribuição ou comercialização destes modelos sem a autorização prévia e por escrito da Legjur.
Informações complementares

Simulação de Voto

I. Relatório

Trata-se de recurso de apelação interposto por M. J. dos S. em face de sentença proferida nos autos da ação de busca e apreensão ajuizada por Aymoré Crédito, Financiamento e Investimento S/A, que julgou procedente o pedido inicial, consolidando a posse e a propriedade do veículo em favor da instituição financeira. A Apelante sustenta, em síntese, a ausência de regular constituição em mora, ausência de tentativa de solução extrajudicial, desproporcionalidade da medida, bem como pleiteia o reconhecimento de seus direitos à luz do Código de Defesa do Consumidor e do adimplemento substancial.

II. Fundamentação

1. Da Regularidade Formal e Conhecimento do Recurso

O recurso é tempestivo, considerando o prazo previsto no CPC/2015, art. 1.003, §5º. A parte Apelante requereu o benefício da gratuidade de justiça, nos termos do CPC/2015, art. 98, apresentando, ademais, fundamentação adequada, motivo pelo qual conheço do recurso.

2. Dos Fatos e da Regular Constituição em Mora

Restou incontroverso que a Apelante, motorista de aplicativo, firmou contrato de financiamento de veículo e, por dificuldades financeiras, atrasou o pagamento das duas primeiras parcelas do contrato renegociado. A instituição financeira ajuizou ação de busca e apreensão, sendo deferida liminar, que resultou na apreensão do bem.

O cerne da controvérsia reside na regular constituição em mora da Apelante. O Decreto-lei 911/1969, art. 2º, §2º, exige que a constituição em mora se dê por notificação extrajudicial enviada ao endereço constante no contrato. O Superior Tribunal de Justiça consolidou entendimento, no Tema 1132 (REsp Acórdão/STJ), de que é suficiente o envio da notificação ao endereço indicado, sendo prescindível a confirmação do recebimento pessoal.

Todavia, no caso concreto, as tentativas de entrega da notificação extrajudicial restaram frustradas, não havendo prova de ciência da mora por parte da Apelante. O princípio do contraditório e da ampla defesa (CF/88, art. 5º, LV) impõe que o devedor tenha efetiva ciência da mora para que possa exercer o direito à purgação. A mera remessa, sem qualquer comprovação de entrega ou devolução com recusa, não atende à finalidade legal, comprometendo o devido processo legal (CF/88, art. 5º, LIV).

Ressalto que a jurisprudência admite, excepcionalmente, a descaracterização da mora quando não há notificação válida ou quando o devedor comprova a quitação das parcelas antes da consolidação da posse (STJ, REsp Acórdão/STJ).

3. Do Interesse Processual e da Solução Amigável

O interesse processual pressupõe a necessidade e utilidade da tutela jurisdicional. No presente caso, verifica-se que a Apelada não demonstrou ter esgotado vias extrajudiciais para resolução do conflito, optando diretamente pela via judicial, em possível afronta aos princípios da razoabilidade, proporcionalidade e cooperação processual (CPC/2015, art. 6º e art. 8º), além da boa-fé objetiva (CCB/2002, art. 422) e função social do contrato (CCB/2002, art. 421).

Considerando que a Apelante já havia quitado parte substancial do valor do bem (50%), a medida extrema da busca e apreensão revela-se desproporcional, especialmente diante da ausência de tentativa de composição amigável.

4. Da Aplicação do Código de Defesa do Consumidor

A relação entre as partes é nitidamente de consumo, atraindo a aplicação do CDC (Lei 8.078/1990, art. 2º e art. 3º). Desse modo, impõe-se a observância dos princípios da vulnerabilidade, transparência e equilíbrio contratual, devendo eventuais dúvidas serem interpretadas em favor da parte hipossuficiente.

5. Do Adimplemento Substancial e Proporcionalidade

Embora o Superior Tribunal de Justiça entenda pela inaplicabilidade da teoria do adimplemento substancial aos contratos de alienação fiduciária (REsp 1.622.555/MG), não se pode olvidar que a análise da proporcionalidade da medida deve considerar as circunstâncias do caso concreto e o histórico de adimplemento da parte devedora, em respeito à função social do contrato (CCB/2002, art. 421).

6. Da Purgação da Mora e Restituição do Bem

O Decreto-lei 911/1969, art. 3º, §§1º e 2º assegura ao devedor o direito de purgar a mora em cinco dias após a execução da liminar. Contudo, a ausência de notificação válida inviabilizou o exercício desse direito pela Apelante, tornando irregular a consolidação da posse e propriedade do bem em favor da instituição credora.

Assim, a restituição do veículo à Apelante é medida que se impõe, em observância aos princípios constitucionais do contraditório, ampla defesa e devido processo legal (CF/88, art. 5º, incisos LV e LIV).

7. Da Fundamentação Constitucional e Legal

Este voto encontra-se devidamente fundamentado nos termos do CF/88, art. 93, IX, que exige a motivação das decisões judiciais, bem como nas garantias do contraditório, ampla defesa, legalidade e devido processo legal (CF/88, art. 5º, incisos II, XXXV, LIV e LV).

III. Dispositivo

Diante do exposto, dou provimento ao recurso de apelação para reformar a sentença de primeiro grau, reconhecendo a ausência de regular constituição em mora e, consequentemente, declarando a nulidade da busca e apreensão realizada, com a determinação de restituição do veículo à Apelante.

Condeno a Apelada ao pagamento das custas processuais e honorários advocatícios, fixados nos termos do CPC/2015, art. 85.

Defiro, ainda, o benefício da gratuidade de justiça à Apelante (CPC/2015, art. 98).

Publique-se. Registre-se. Intimem-se.

IV. Observação sobre a Fundamentação

A presente decisão fundamenta-se nos fatos comprovados nos autos e em interpretação sistemática das normas legais e constitucionais, de modo a assegurar a efetividade do contraditório, da ampla defesa e da boa-fé objetiva, observando o devido processo legal e os preceitos do CF/88, art. 93, IX.

Ressalto que eventual reiteração do inadimplemento ensejará novo procedimento, devendo a instituição financeira observar todos os requisitos legais de validade quanto à notificação e à constituição em mora, sob pena de nova nulidade.

V. Conclusão

É como voto.



[Local], [Data]

Desembargador(a)/Juiz(a): ________________________
Assinatura Digital


solicite seu modelo personalizado

Solicite Seu Modelo de Peça Processual Personalizado!

Sabemos que cada processo é único e merece um modelo de peça processual que reflita suas especificidades. Por isso, oferecemos a criação de modelos de peças processuais personalizados, partindo de um modelo básico adaptável às suas exigências. Com nosso serviço, você tem a segurança de que sua documentação jurídica será profissional e ajustada ao seu caso concreto. Para solicitar seu modelo personalizado, basta clicar no link abaixo e nos contar sobre as particularidades do seu caso. Estamos comprometidos em fornecer a você uma peça processual que seja a base sólida para o seu sucesso jurídico. Solicite aqui

Outras peças semelhantes

Você está prestes a dar um passo crucial para aperfeiçoar a sua prática jurídica! Bem-vindo ao LegJur, seu recurso confiável para o universo do Direito.

Ao adquirir a assinatura do nosso site, você obtém acesso a um repositório completo de modelos de petição. Preparados por especialistas jurídicos com vasta experiência na área, nossos modelos abrangem uma ampla gama de situações legais, permitindo que você tenha uma base sólida para elaborar suas próprias petições, economizando tempo e garantindo a excelência técnica.

Mas a LegJur oferece muito mais do que isso! Com a sua assinatura, você também terá acesso a uma biblioteca abrangente de eBooks jurídicos, conteúdo atualizado de legislação, jurisprudência cuidadosamente selecionada, artigos jurídicos de alto nível e provas anteriores do Exame da Ordem. É tudo o que você precisa para se manter atualizado e preparado na sua carreira jurídica.

Na LegJur, temos o objetivo de fornecer as ferramentas essenciais para estudantes e profissionais do Direito. Quer você esteja se preparando para um processo, estudando para um concurso ou apenas buscando expandir seu conhecimento jurídico, a LegJur é a sua parceira confiável.

Investir na assinatura LegJur é investir na sua carreira, no seu futuro e no seu sucesso. Junte-se a nós e veja por que a LegJur é uma ferramenta indispensável no mundo jurídico.

Clique agora para fazer a sua assinatura e revolucione a maneira como você lida com o Direito. LegJur: seu parceiro para uma carreira jurídica brilhante.

Assine já e tenha acesso imediato a todo o conteúdo
Veja aqui o que o legjur pode lhe oferecer

Assinatura Mensal

Assine o LegJur e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos! Cancele a qualquer hora.

R$ 29,90

À vista

1 mês

Acesse o LegJur por 1 mês e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 39,90

Parcele em até 3x sem juros

3 meses

Equilave a R$ 39,96 por mês

Acesse o LegJur por 3 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 119,90

Parcele em até 6x sem juros

6 meses

Equilave a R$ 32,48 por mês

Acesse o LegJur por 6 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 194,90

Parcele em até 6x sem juros

12 meses + 2 meses de Brinde

Equilave a R$ 24,90 por mês

Acesse o LegJur por 1 ano e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 349,90

Parcele em até 10x sem juros

A cópia de conteúdo desta área está desabilitada, para copiar o conteúdo você deve ser assinante do site.