Modelo de Resposta à acusação por descumprimento de medidas protetivas de urgência (Lei Maria da Penha), arguindo preliminares de prejudicialidade, inépcia e ausência de justa causa, e requerendo absolvição por atipicidade...

Publicado em: 26/06/2025 Direito Penal Processo Penal
Modelo de resposta à acusação criminal em processo por descumprimento de medidas protetivas de urgência, com alegação de existência de outro processo (prejudicialidade externa), inépcia da denúncia, ausência de justa causa e atipicidade da conduta devido ao consentimento da vítima, fundamentado na Lei Maria da Penha, princípios constitucionais e jurisprudência atual. Inclui pedidos de produção de provas, absolvição e demais requerimentos processuais.
← deslize para o lado para ver mais opções

RESPOSTA À ACUSAÇÃO – CRIME DE DESCUMPRIMENTO DE MEDIDAS PROTETIVAS DE URGÊNCIA (LEI MARIA DA PENHA)

1. ENDEREÇAMENTO

Excelentíssimo Senhor Doutor Juiz de Direito da Vara de Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher da Comarca de Teresina – Estado do Piauí.

2. QUALIFICAÇÃO DAS PARTES

Acusado: C. de O. A., brasileiro, solteiro, empresário, portador do CPF nº 123.456.789-00, RG nº 1.234.567 SSP/PI, endereço eletrônico: [email protected], residente e domiciliado na Rua das Flores, nº 100, Bairro Centro, Teresina/PI, CEP 64000-000.

Vítima: C. M. F., brasileira, solteira, professora, portadora do CPF nº 987.654.321-00, RG nº 7.654.321 SSP/PI, endereço eletrônico: [email protected], residente e domiciliada na Rua das Palmeiras, nº 200, Bairro Sul, Teresina/PI, CEP 64001-000.

Processo nº: 0830107-81.2023.8.18.0140

3. SÍNTESE DA DENÚNCIA

O Ministério Público do Estado do Piauí ofereceu denúncia em face de C. de O. A., imputando-lhe a prática do crime previsto no art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), sob a alegação de que, em 16/06/2023 e 11/08/2023, teria descumprido medidas protetivas de urgência concedidas em favor de sua ex-namorada, C. M. F., ao realizar contatos telefônicos e enviar mensagens, contrariando expressa determinação judicial de proibição de comunicação. A denúncia requer a condenação do acusado, bem como a fixação de indenização por dano moral à vítima.

Ressalta-se que tramita outro processo sobre o mesmo caso, fato já mencionado na denúncia.

4. PRELIMINARES

4.1. Prejudicialidade Externa – Existência de Outro Processo sobre o Mesmo Fato

Conforme destacado na própria denúncia, há outro processo em trâmite envolvendo os mesmos fatos e partes. Tal circunstância pode configurar bis in idem e violação ao princípio do ne bis in idem (CF/88, art. 5º, XXXVI), caso haja duplicidade de persecução penal pelos mesmos fatos, o que deve ser apurado por este juízo, para evitar decisões conflitantes e garantir a segurança jurídica.

4.2. Inépcia da Denúncia – Ausência de Individualização da Conduta

A denúncia, embora narre o descumprimento das medidas protetivas, não individualiza de forma clara e precisa as condutas atribuídas ao acusado em cada uma das datas mencionadas, limitando-se a afirmar genericamente a existência de contatos telefônicos e mensagens. Tal omissão prejudica o exercício da ampla defesa e do contraditório (CF/88, art. 5º, LV; CPP, art. 41), devendo ser sanada ou reconhecida a inépcia da peça acusatória.

4.3. Ausência de Justa Causa – Atipicidade da Conduta por Consentimento da Vítima

Conforme entendimento jurisprudencial, o consentimento da vítima pode afastar a tipicidade do crime de descumprimento de medida protetiva, especialmente quando a iniciativa do contato parte da própria ofendida ou quando há reconciliação entre as partes (vide jurisprudências adiante).

Resumo Preliminar: Diante das questões acima, requer-se a análise das preliminares, com eventual reconhecimento da prejudicialidade externa, inépcia da denúncia ou ausência de justa causa, antes do exame do mérito.

5. DOS FATOS

O acusado, C. de O. A., manteve relacionamento amoroso com a vítima, C. M. F., findo em data anterior aos fatos narrados. Em razão de desentendimentos, foram deferidas medidas protetivas de urgência em favor da ofendida, proibindo o acusado de manter contato por qualquer meio.

Segundo a denúncia, nos dias 16/06/2023 e 11/08/2023, o acusado teria descumprido a ordem judicial ao realizar ligações e enviar mensagens à vítima. Contudo, há elementos que indicam que tais contatos ocorreram em contexto de tentativa de resolução de questões pendentes do relacionamento, sendo, inclusive, reciprocados ou consentidos pela vítima, conforme se extrai de conversas juntadas aos autos do outro processo em trâmite.

Ademais, não há nos autos demonstração inequívoca de que o acusado agiu com dolo específico de violar a ordem judicial, tampouco que a vítima tenha se sentido ameaçada ou coagida pelas comunicações, o que afasta a configuração do tipo penal imputado.

Resumo Fático: Os fatos narrados não evidenciam conduta dolosa, tampouco dano concreto à integridade da vítima, havendo dúvidas relevantes quanto à existência de justa causa para a ação penal.

6. DO DIREITO

6.1. Tipicidade Penal e Elemento Subjetivo

O art. 24-A da Lei 11.340/2006 prevê como crime o descumprimento de medida protetiva de urgência, exigindo a demonstração de dolo, ou seja, a vontade livre e consciente de violar ordem judicial. A doutrina e a jurisprudência majoritária reconhecem que o mero contato, sem demonstração de ameaça, coação ou dano, não é suficiente para a configuração do delito, sobretudo quando há anuência da vítima ou ausência de resistência à comunicação.

6.2. Consentimento da Vítima e Atipicidade da Conduta

A jurisprudência do STJ e dos Tribunais Estaduais tem reconhecido que o consentimento da vítima para o contato, ou mesmo a provocação da comunicação pela ofendida, afasta a tipicidade do crime de descumprimento de medida protetiva (vide TJMG, Apelação Criminal 1.0000.25.066588-2/001 e 1.0000.25.058229-3/001).

6.3. Princípios Constitucionais

O princípio da legalidade (CF/88, art. 5º, II), da ampla defesa e do contraditório (CF/88, art. 5º, LV), e da dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1º, III) devem nortear a interpretação das normas penais, evitando-se condenações injustas e desproporcionais.

6.4. Prejudicialidade Externa e Bis in Idem

A existência de outro processo sobre os mesmos fatos pode ensejar a extinção da punibilidade ou a reunião dos feitos, para e"'>...

Para ter acesso a íntegra dessa peça processual Adquira um dos planos de acesso do site, ou caso você já esteja cadastrado ou já adquiriu seu plano clique em entrar no topo da pagina:


Copyright LEGJUR
Todos os modelos de documentos do site Legjur são de uso exclusivo do assinante. É expressamente proibida a reprodução, distribuição ou comercialização destes modelos sem a autorização prévia e por escrito da Legjur.
Informações complementares

Simulação de Voto

RELATÓRIO

Trata-se de ação penal em que C. de O. A. foi denunciado pelo Ministério Público do Estado do Piauí pela suposta prática do crime de descumprimento de medidas protetivas de urgência, previsto no art. 24-A da Lei nº 11.340/2006 (Lei Maria da Penha), por ter, em 16/06/2023 e 11/08/2023, realizado contatos telefônicos e enviado mensagens à vítima, C. M. F., em afronta à ordem judicial. A denúncia também requer a fixação de indenização por dano moral à vítima. Ressalta-se a informação de existência de outro processo envolvendo os mesmos fatos e partes.

FUNDAMENTAÇÃO

I – Da Análise das Preliminares

Inicialmente, cumpre examinar as questões preliminares suscitadas pela defesa:

Prejudicialidade Externa (bis in idem): A defesa aponta a existência de outro processo em trâmite sobre os mesmos fatos, o que pode configurar violação ao princípio do ne bis in idem (CF/88, art. 5º, XXXVI), sendo recomendável a verificação, por este juízo, acerca da possível duplicidade de persecução penal. Contudo, da análise dos autos, verifica-se que, embora haja referência a outro feito, não há identidade absoluta de imputações ou risco imediato de decisões conflitantes. Assim, entendo não estar configurada, nesta fase, a prejudicialidade externa, sem prejuízo de futura reunião de processos, se demonstrada a efetiva necessidade (CPP, art. 76).

Inépcia da Denúncia: Sustenta a defesa que a denúncia não individualizou de forma clara as condutas do acusado nas datas mencionadas (CPC/2015, art. 319; CPP, art. 41). Contudo, verifica-se que a peça acusatória descreve, ainda que sucintamente, os fatos imputados, possibilitando o exercício da ampla defesa (CF/88, art. 5º, LV). Assim, afasto a preliminar de inépcia.

Ausência de Justa Causa – Consentimento da Vítima: Argumenta a defesa que o consentimento da vítima para os contatos afastaria a tipicidade da conduta. Tal alegação, todavia, confunde-se com o mérito e será apreciada no tópico seguinte.

II – Do Mérito

A) Tipicidade Penal e Elemento Subjetivo

O crime de descumprimento de medida protetiva de urgência (art. 24-A da Lei nº 11.340/2006) exige a demonstração do dolo, isto é, da vontade livre e consciente de desobedecer ordem judicial. A jurisprudência tem assentado que o mero contato, sem demonstração de ameaça, coação ou ausência de consentimento da vítima, não é suficiente para a configuração do delito, especialmente em casos de reatamento de relacionamento ou anuência clara da ofendida.

B) Consentimento da Vítima

O exame dos autos revela que houve troca de mensagens e contatos telefônicos entre as partes, não havendo, contudo, demonstração cabal de que a iniciativa tenha partido exclusivamente do acusado, ou que a vítima tenha se sentido ameaçada, coagida ou lesada. Ademais, há indícios de reciprocidade e consentimento, conforme registros juntados nos autos. A jurisprudência dos tribunais reconhece que o consentimento efetivo da vítima pode afastar a tipicidade do crime de descumprimento de medida protetiva (vide TJMG, Apelação Criminal 1.0000.25.066588-2/001).

C) Princípios Constitucionais

Conforme o princípio da legalidade (CF/88, art. 5º, II), ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer algo senão em virtude de lei. Ademais, a ampla defesa e o contraditório devem ser resguardados (CF/88, art. 5º, LV). Não se pode admitir condenação penal sem a inequívoca demonstração do dolo e da ausência de consentimento da vítima, sob pena de se vulnerar os direitos fundamentais do acusado.

Cumpre também observar o princípio da dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1º, III), bem como a necessidade de motivação das decisões judiciais (CF/88, art. 93, IX).

D) Ausência de Dano, Dolo e Princípio da Insignificância

Não restou comprovado nos autos que o acusado agiu com dolo específico de violar ordem judicial, tampouco que a vítima tenha sofrido dano concreto à sua integridade física ou psicológica. O contexto revela ausência de lesividade significativa, de modo que se impõe o reconhecimento da atipicidade material da conduta, sob pena de afronta ao princípio da insignificância.

E) Pedido de Indenização por Danos Morais

Não havendo demonstração de efetivo dano moral à vítima, deve ser indeferido o pleito indenizatório (CCB/2002, art. 11, §1º, III).

DISPOSITIVO

Ante o exposto, JULGO IMPROCEDENTE a denúncia para ABSOLVER C. de O. A., nos termos do CPP, art. 386, III e VII, reconhecendo a atipicidade da conduta e a ausência de dolo, especialmente diante do consentimento da vítima para os contatos realizados.

JULGO IMPROCEDENTE também o pedido de indenização por dano moral, por ausência de demonstração de dano concreto.

Por fim, determino o arquivamento dos autos, ressalvando a possibilidade de reunião dos feitos, caso se verifique identidade de partes e fatos em outro processo, para evitar decisões conflitantes, nos termos do CPP, art. 76.

DISPOSIÇÕES FINAIS

Publique-se. Registre-se. Intimem-se as partes.

Teresina, 10 de junho de 2025.

Juiz de Direito


Notas e Fundamentação Legal


solicite seu modelo personalizado

Solicite Seu Modelo de Peça Processual Personalizado!

Sabemos que cada processo é único e merece um modelo de peça processual que reflita suas especificidades. Por isso, oferecemos a criação de modelos de peças processuais personalizados, partindo de um modelo básico adaptável às suas exigências. Com nosso serviço, você tem a segurança de que sua documentação jurídica será profissional e ajustada ao seu caso concreto. Para solicitar seu modelo personalizado, basta clicar no link abaixo e nos contar sobre as particularidades do seu caso. Estamos comprometidos em fornecer a você uma peça processual que seja a base sólida para o seu sucesso jurídico. Solicite aqui

Outras peças semelhantes

Você está prestes a dar um passo crucial para aperfeiçoar a sua prática jurídica! Bem-vindo ao LegJur, seu recurso confiável para o universo do Direito.

Ao adquirir a assinatura do nosso site, você obtém acesso a um repositório completo de modelos de petição. Preparados por especialistas jurídicos com vasta experiência na área, nossos modelos abrangem uma ampla gama de situações legais, permitindo que você tenha uma base sólida para elaborar suas próprias petições, economizando tempo e garantindo a excelência técnica.

Mas a LegJur oferece muito mais do que isso! Com a sua assinatura, você também terá acesso a uma biblioteca abrangente de eBooks jurídicos, conteúdo atualizado de legislação, jurisprudência cuidadosamente selecionada, artigos jurídicos de alto nível e provas anteriores do Exame da Ordem. É tudo o que você precisa para se manter atualizado e preparado na sua carreira jurídica.

Na LegJur, temos o objetivo de fornecer as ferramentas essenciais para estudantes e profissionais do Direito. Quer você esteja se preparando para um processo, estudando para um concurso ou apenas buscando expandir seu conhecimento jurídico, a LegJur é a sua parceira confiável.

Investir na assinatura LegJur é investir na sua carreira, no seu futuro e no seu sucesso. Junte-se a nós e veja por que a LegJur é uma ferramenta indispensável no mundo jurídico.

Clique agora para fazer a sua assinatura e revolucione a maneira como você lida com o Direito. LegJur: seu parceiro para uma carreira jurídica brilhante.

Assine já e tenha acesso imediato a todo o conteúdo
Veja aqui o que o legjur pode lhe oferecer

Assinatura Mensal

Assine o LegJur e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos! Cancele a qualquer hora.

R$ 29,90

À vista

1 mês

Acesse o LegJur por 1 mês e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 39,90

Parcele em até 3x sem juros

3 meses

Equilave a R$ 39,96 por mês

Acesse o LegJur por 3 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 119,90

Parcele em até 6x sem juros

6 meses

Equilave a R$ 32,48 por mês

Acesse o LegJur por 6 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 194,90

Parcele em até 6x sem juros

12 meses + 2 meses de Brinde

Equilave a R$ 24,90 por mês

Acesse o LegJur por 1 ano e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 349,90

Parcele em até 10x sem juros

A cópia de conteúdo desta área está desabilitada, para copiar o conteúdo você deve ser assinante do site.