Jurisprudência em Destaque
Comentário jurídico sobre acórdão do STJ que afasta responsabilidade civil do espólio em acidente de trânsito por defeito de fabricação em pneu, aplicando teoria do corpo neutro e CDC art. 12
Doc. LEGJUR 250.6261.2116.4701
No caso, o motorista de carro, em razão do estouro de pneu por defeito de fabricação, perdeu o controle da direção e colidiu com caminhão, o que ocasionou a morte do primeiro condutor e danos materiais ao segundo. ... ()

Comentário/Nota
COMENTÁRIO JURÍDICO SOBRE O ACÓRDÃO DO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA - RESPONSABILIDADE CIVIL EM ACIDENTE DE TRÂNSITO POR DEFEITO DE FABRICAÇÃO EM PNEU
1. INTRODUÇÃO E CONTEXTO FÁTICO
O acórdão comentado versa sobre ação indenizatória decorrente de acidente de trânsito, em que o espólio de K. C. L. foi condenado ao pagamento de danos materiais ao proprietário do caminhão atingido após estouro de pneu do veículo conduzido por K. C. L., vindo a falecer no sinistro. Restou incontroverso nos autos que o pneu fora trocado recentemente e apresentou defeito de fabricação, sendo esta a causa exclusiva do acidente, fato comprovado por perícia técnica.
2. FUNDAMENTAÇÃO JURÍDICA E ARGUMENTAÇÃO DO ACÓRDÃO
A Ministra Relatora N. A., ao analisar o recurso especial, destacou a aplicação da teoria do corpo neutro na responsabilidade civil extracontratual em acidentes de trânsito. Segundo essa teoria, há exclusão do nexo causal por fato de terceiro quando este é a única causa do dano, especialmente se não houver ato volitivo do agente. Assim, o condutor do veículo, diante do estouro repentino do pneu por vício de fabricação, foi reduzido a mero instrumento físico, sem qualquer possibilidade de intervenção para evitar o resultado danoso.
O Tribunal de origem havia mantido a responsabilidade do espólio fundamentando-se na responsabilidade objetiva decorrente do risco da atividade (CCB/2002, art. 927, parágrafo único), entendendo o acidente como resultado de fortuito interno. O STJ, contudo, reformou esse entendimento ao reconhecer, com base no CCB/2002, art. 393, a existência de fortuito externo, o que rompe o nexo de causalidade e afasta o dever de indenizar.
3. ANÁLISE DOS FUNDAMENTOS JURÍDICOS E DOS ASPECTOS PROCESSUAIS
- Rompimento do nexo causal: O acórdão enfatiza que, nos termos do CCB/2002, art. 393, o caso fortuito ou força maior afasta a responsabilidade do agente, desde que o evento danoso não decorra de comportamento voluntário ou negligente do condutor. A perícia comprovou que o pneu era novo e apresentava defeito de fabricação, o que atribui a responsabilidade ao fornecedor (CDC, art. 12), e não ao proprietário do veículo.
- Responsabilidade objetiva e risco da atividade: O STJ ponderou que a responsabilização objetiva (CCB/2002, art. 927, parágrafo único) não pode ser aplicada de maneira automática à mera condução do veículo quando não há elemento volitivo ou culpa do agente, sobretudo quando o automóvel estava em bom estado de manutenção e velocidade compatível.
- Aplicação da teoria do corpo neutro: O julgado reforça a jurisprudência do próprio STJ (a exemplo do REsp Acórdão/STJ) ao distinguir situações em que o condutor atua apenas como instrumento involuntário do fato, afastando-se sua responsabilidade.
- Legitimidade passiva e direito regressivo: O acórdão ressalta que eventual pleito indenizatório deve ser direcionado contra os efetivos responsáveis pelo fato do produto, nos termos do CDC, e não contra quem foi vítima indireta do evento.
4. CONSEQUÊNCIAS JURÍDICAS E PRÁTICAS DA DECISÃO
O acórdão tem relevantes consequências para a delimitação da responsabilidade civil em acidentes de trânsito, especialmente quando envolvem defeitos de fabricação em componentes veiculares. Ao afastar a responsabilidade objetiva do proprietário/condutor, o STJ reforça a necessidade de analisar, casuisticamente, o nexo causal e os elementos subjetivos, evitando decisões automáticas que possam gerar injustiça e onerar indevidamente aquele que, comprovadamente, não contribuiu para o evento danoso.
Na prática, a decisão valoriza a produção de prova técnica, delimitando a responsabilidade do fornecedor do produto defeituoso (CDC, art. 12) e não daquele que, na condição de consumidor, realizou a devida manutenção e não podia prever ou evitar o sinistro.
5. CRÍTICAS, ELOGIOS E REPERCUSSÕES NO ORDENAMENTO JURÍDICO
- Elogios: A fundamentação apresentada é sólida, adequada à jurisprudência consolidada do STJ e do sistema de responsabilidade civil brasileiro. Destaca-se o rigor técnico na distinção entre fortuito interno e externo, e a aplicação criteriosa da teoria do corpo neutro.
- Críticas: Poder-se-ia questionar se, em hipóteses limítrofes, a análise do elemento volitivo não poderia ser ampliada, especialmente em contextos de manutenção inadequada ou outros fatores concorrentes. No caso concreto, entretanto, tais elementos foram excluídos pela prova pericial.
- Repercussão: A decisão tende a uniformizar o entendimento quanto à exclusão da responsabilidade do proprietário/condutor em situações análogas, promovendo maior segurança jurídica e previsibilidade nas demandas indenizatórias oriundas de acidentes de trânsito por defeito de fabricação.
6. REFLEXOS FUTUROS E CONSIDERAÇÕES FINAIS
O julgado ora comentado contribui para o amadurecimento do debate sobre responsabilidade civil no contexto dos acidentes de trânsito, reafirmando a necessidade de apuração rigorosa do nexo causal e da voluntariedade do agente. Traz importante orientação para a atuação dos juízos de primeiro e segundo grau, ao indicar que não se pode presumir a responsabilidade objetiva do proprietário/condutor em qualquer hipótese de acidente, devendo-se sopesar as circunstâncias concretas e a correta identificação dos responsáveis pelo dano.
Em conclusão, a decisão representa avanço significativo no tratamento dos acidentes de trânsito envolvendo defeitos de fabricação, ao proteger consumidores de responsabilizações indevidas e deslocar o foco da reparação para o fornecedor do produto defeituoso, em consonância com o CDC, art. 12. Espera-se que o precedente seja amplamente observado, fortalecendo o equilíbrio e a justiça nas relações civis e consumeristas.
Outras notícias semelhantes

Análise Jurídica de Decisão do STJ Sobre Sub-Rogação de Direitos e Prerrogativas Processuais do Consumidor em Ações Regressivas de Seguradoras
Publicado em: 20/03/2025 CivelProcesso CivilConsumidorComentário jurídico sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) no Recurso Especial nº Acórdão/STJ, que fixou o entendimento de que a sub-rogação de direitos em ações regressivas de seguradoras não inclui as prerrogativas processuais do consumidor previstas no Código de Defesa do Consumidor (CDC). A análise aborda a fundamentação jurídica, os impactos para seguradoras, consumidores e o ordenamento jurídico, bem como as implicações práticas para litígios envolvendo sub-rogação e ações regressivas.
Acessar
Análise Jurídica da Decisão do STJ sobre Negativa de Cobertura de Procedimento pela GEAP Autogestão em Saúde
Publicado em: 13/04/2025 CivelProcesso CivilConsumidorCivelProcesso CivilConstitucionalConsumidorComentário jurídico detalhado sobre acórdão do STJ que determinou a obrigatoriedade de cobertura de procedimento cirúrgico pela GEAP Autogestão em Saúde. A decisão analisada reafirma a jurisprudência sobre a prevalência do direito à saúde e considera abusiva a recusa da operadora em fornecer tratamento previsto no rol da ANS. Fundamentada no CDC, no Código Civil e na Lei 14.454/2022, a análise destaca a aplicação da teoria do risco do empreendimento, a preclusão recursal e as consequências jurídicas da negativa injustificada, incluindo indenização por danos morais.
Acessar
Comentário Jurídico sobre Acórdão do STJ: Incidência de Juros Compensatórios em Desapropriação para Reforma Agrária e Aplicação de Normas Supervenientes
Publicado em: 16/04/2025 CivelProcesso CivilConsumidorCivelProcesso CivilConstitucionalConsumidorAgrarioProcesso CivilConstitucionalEste modelo apresenta comentário jurídico detalhado acerca de acórdão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) sobre a incidência e limites dos juros compensatórios em processos de desapropriação para fins de reforma agrária, com destaque para a aplicação imediata de normas legais supervenientes durante a fase recursal. Analisa o recurso especial do INCRA contra decisão do TRF5, as consequências práticas da mutação legislativa, a fundamentação constitucional e jurisprudencial, a segurança jurídica dos expropriados e o impacto da sucessão normativa sobre o direito à indenização. O texto ainda aborda a importância da função social da propriedade rural, o papel sancionatório da desapropriação e sugere reflexões sobre a necessidade de modulação dos efeitos para evitar prejuízos às partes.
AcessarTransforme seu escritório de advocacia com informações legais atualizadas e relevantes!
Olá Advogado(a),
Você já pensou sobre o tempo e os recursos que gasta pesquisando leis, jurisprudências e doutrinas para os seus casos? Já se imaginou otimizando esse processo de forma eficiente e segura?
Então, temos algo em comum. O LegJur foi criado pensando em você, no advogado moderno que não pode se dar ao luxo de perder tempo em um mercado tão competitivo.
Por que o LegJur é a solução que você precisa?
1. Conteúdo Atualizado: Nosso banco de dados é atualizado constantemente, oferecendo as informações mais recentes sobre legislações, súmulas e jurisprudências.
2. Fácil Acesso: Uma plataforma simples e intuitiva que você pode acessar de qualquer dispositivo, a qualquer momento. Seu escritório fica tão flexível quanto você.
3. Busca Inteligente: Nosso algoritmo avançado torna sua pesquisa rápida e eficaz, sugerindo temas correlatos e opções para refinar sua busca.
4. Confiabilidade: Nosso time de especialistas trabalha incansavelmente para garantir a qualidade e a confiabilidade das informações disponíveis.
5. Economia de Tempo: Deixe de lado as horas de pesquisa em múltiplas fontes. Aqui, você encontra tudo o que precisa em um só lugar.
Invista no seu maior capital: o tempo
Você já deve saber que o tempo é um dos ativos mais preciosos na advocacia. Utilize o LegJur para maximizar sua eficiência, oferecendo ao seu cliente uma consultoria de alto nível fundamentada em informações confiáveis e atualizadas.
Depoimentos
"O LegJur transformou a forma como faço minha pesquisa jurídica. Agora, posso concentrar-me mais no desenvolvimento de estratégias para meus casos e menos na busca de informações."
— Maria L., Advogada
Não perca mais tempo! Torne-se membro do LegJur e eleve sua prática jurídica a um novo patamar.
Faça parte da evolução na advocacia. Faça parte do LegJur.
Assine o LegJur e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos! Cancele a qualquer hora.
À vista
Acesse o LegJur por 1 mês e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 3x sem juros
Equilave a R$ 39,96 por mês
Acesse o LegJur por 3 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 6x sem juros
Equilave a R$ 32,48 por mês
Acesse o LegJur por 6 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 6x sem juros
Equilave a R$ 24,90 por mês
Acesse o LegJur por 1 ano e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!
Parcele em até 10x sem juros