Jurisprudência em Destaque

Comentário Jurídico sobre Acórdão do STJ que Negou Limitação Temporal de Medida de Segurança em Sentença Absolutória Imprópria no Caso de Crime de Roubo com Inimputabilidade

Postado por legjur.com em 21/04/2025
Análise detalhada da decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que, ao negar habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública de São Paulo em favor de réu inimputável, manteve a medida de segurança (tratamento ambulatorial) aplicada após sentença absolutória imprópria em crime de roubo. O documento destaca os fundamentos jurídicos da decisão, especialmente a distinção entre substituição de pena e sentença absolutória imprópria, a prevalência do princípio in dubio pro societate para a proteção social, e a aplicação do artigo 97, §1º do Código Penal. Além disso, aborda críticas e elogios à permanência indefinida da medida, suas implicações para o direito à liberdade, dignidade da pessoa humana e garantias fundamentais, bem como os desafios que a decisão impõe à defesa técnica, Defensoria Pública e Poder Judiciário quanto à necessidade de revisões periódicas da periculosidade do agente. Por fim, aponta possíveis reflexos futuros no debate sobre a constitucionalidade da medida e a busca por maior equilíbrio entre proteção social e direitos individuais.

Doc. LEGJUR 250.3180.5825.1998

STJ Medida de segurança. Duração indeterminada. Possibilidade. Paciente inimputável. Sentença absolutória imprópria. Cessação da periculosidade. Aplicação do princípio in dubio pro societate. Direito penal. Habeas corpus. Ordem denegada. Súmula 527/STJ. CP, art. 29, caput. CP, art. 97, § 1º. CP, art. 157, § 2º, I e II. Lei 7.210/1984, art. 183.

I - Caso em exame ... ()


Íntegra PDF Ementa
Comentário Jurídico sobre Acórdão do STJ que Negou Limitação Temporal de Medida de Segurança em Sentença Absolutória Imprópria no Caso de Crime de Roubo com Inimputabilidade

Comentário/Nota

COMENTÁRIO JURÍDICO SOBRE ACÓRDÃO DO STJ – LIMITAÇÃO TEMPORAL DE MEDIDA DE SEGURANÇA EM SENTENÇA ABSOLUTÓRIA IMPRÓPRIA

INTRODUÇÃO

O presente comentário jurídico analisa decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que negou habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública de São Paulo em favor de J. D. S. F., visando limitar a duração de medida de segurança (tratamento ambulatorial) imposta após sentença absolutória imprópria, em razão de inimputabilidade reconhecida no contexto de crime de roubo.

FUNDAMENTOS JURÍDICOS DA DECISÃO

O núcleo argumentativo da defesa se apoiou na aplicação do entendimento consolidado na Súmula 527 do STJ, que prevê, para as hipóteses de substituição de pena privativa de liberdade por medida de segurança, a limitação temporal máxima equivalente ao tempo da pena abstratamente cominada ao delito. Todavia, o Tribunal, por unanimidade, rejeitou tal postulação, sustentando que em sentenças absolutórias impróprias – e não de substituição de pena – prevalece o comando normativo do CP, art. 97, §1º, segundo o qual a medida de segurança perdura enquanto não for comprovada, de modo inequívoco, a cessação da periculosidade do agente.

Destaca-se, ainda, a invocação do princípio in dubio pro societate para justificar a manutenção da medida em caso de dúvida quanto à cessação da periculosidade, reforçando a função preventiva e protetiva da medida de segurança.

ANÁLISE CRÍTICA E OBJETIVA

  1. Distinção entre Substituição de Pena e Sentença Absolutória Imprópria:

    A decisão do STJ evidencia a distinção ontológica entre a substituição de pena – quando o réu é considerado imputável, mas recebe medida de segurança em vez de pena privativa de liberdade – e a sentença absolutória imprópria, na qual o agente, inimputável, é absolvido, mas submetido a medida de segurança em virtude de sua periculosidade. Tal diferenciação é relevante do ponto de vista processual e material, pois impacta diretamente na aplicabilidade da Súmula 527 do STJ, que não alcança a hipótese de absolvição imprópria, conforme corretamente delimitado pelo Tribunal.

  2. Prevalência do Interesse Social e Princípio in dubio pro societate:

    O acórdão ressalta a necessidade de proteção da sociedade frente à possível periculosidade do agente inimputável, aplicando o princípio in dubio pro societate para justificar a manutenção da medida enquanto não comprovada sua cessação. Embora tal princípio encontre respaldo doutrinário, sua aplicação deve ser cuidadosamente ponderada à luz das garantias fundamentais, notadamente o direito à liberdade previsto na CF/88, art. 5º, inciso LXI.

  3. Permanência da Medida de Segurança e sua Natureza Jurídica:

    Ao afirmar que a medida deve perdurar por tempo indeterminado, até prova inequívoca da cessação da periculosidade, o julgado reafirma a natureza preventiva e protetiva das medidas de segurança, diferenciando-as das penas (CP, art. 97, §1º). Entretanto, tal entendimento pode ser objeto de críticas sob a ótica dos direitos humanos e do princípio da proporcionalidade, considerando que, em determinados casos, a medida pode se prolongar por período superior à pena máxima abstratamente prevista para o tipo penal, ensejando possível desproporcionalidade e tratamento discriminatório ao inimputável.

  4. Consequências Práticas e Jurídicas:

    Na prática, a decisão do STJ reforça a diretriz de que, em sentenças absolutórias impróprias, não há limitação temporal pré-fixada à medida de segurança, a qual permanecerá enquanto não demonstrada a cessação da periculosidade por meio de perícia médica periódica. Tal posicionamento tende a impactar diretamente a atuação da defesa técnica e institucional, exigindo acompanhamento processual constante e proativo dos casos de interdição ou tratamento ambulatorial, bem como atenção ao CPC/2015, art. 319 quanto à postulação de revisões periódicas.

CRÍTICAS, ELOGIOS E REPERCUSSÕES

O acórdão merece elogios pelo rigor técnico na distinção entre substituição de pena e sentença absolutória imprópria, bem como pela observância da literalidade do CP, art. 97, §1º. Contudo, suscita críticas quanto à extensão temporal indefinida da medida, que pode conflitar com o princípio da dignidade da pessoa humana (CF/88, art. 1º, III) e o direito à duração razoável da privação de liberdade. A ausência de balizas temporais objetivas pode ensejar questionamentos perante tribunais internacionais de direitos humanos, sobretudo se não forem garantidos mecanismos efetivos e céleres de revisão da periculosidade do agente.

No âmbito do ordenamento jurídico, a decisão reafirma a necessidade de constante ponderação entre o interesse público na proteção social e as garantias individuais, especialmente em relação a pessoas com transtornos mentais envolvidas em práticas delitivas.

CONSIDERAÇÕES FINAIS E REFLEXOS FUTUROS

A decisão do STJ consolida o entendimento de que, em sentenças absolutórias impróprias, a medida de segurança deve subsistir enquanto não cessada a periculosidade do agente, afastando a limitação temporal prevista na Súmula 527 do próprio Tribunal. O julgado impõe desafios à defesa, à Defensoria Pública e ao Poder Judiciário quanto à necessidade de revisões periódicas e ao respeito às garantias fundamentais. Reflexos futuros podem incluir debates sobre a constitucionalidade da perpetuidade da medida e a busca por soluções legislativas que promovam maior equilíbrio entre a proteção da sociedade e a dignidade do inimputável.


Outras notícias semelhantes


Análise Jurídica da Decisão do STJ sobre a Aplicação de Causa de Aumento de Pena em Razão do Uso de Arma Branca Impropria

Análise Jurídica da Decisão do STJ sobre a Aplicação de Causa de Aumento de Pena em Razão do Uso de Arma Branca Impropria

Publicado em: 30/03/2025 Direito Penal Processo Penal

Este documento apresenta uma análise jurídica detalhada sobre a decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que manteve o entendimento de que objetos não fabricados como armas, mas usados com potencial lesivo, podem configurar armas brancas impróprias para fins de aplicação da causa de aumento de pena prevista no Código Penal (art. 157, §2º, VII). A decisão dispensa a perícia técnica, fundamentando-se na livre apreciação das provas pelo magistrado, conforme o CPC/2015, art. 371, e no princípio da celeridade processual. O texto analisa os fundamentos jurídicos, as consequências práticas e jurídicas, além de refletir sobre os limites e riscos dessa flexibilização.

Acessar

Comentário Jurídico sobre Acórdão do STJ que Nega Habeas Corpus para Revisão de Cláusulas do ANPP: Limites do Controle Judicial e Princípios da Boa-fé e Segurança Jurídica

Comentário Jurídico sobre Acórdão do STJ que Nega Habeas Corpus para Revisão de Cláusulas do ANPP: Limites do Controle Judicial e Princípios da Boa-fé e Segurança Jurídica

Publicado em: 21/04/2025 Direito Penal Processo Penal Constitucional Direito Penal Processo Penal

Este modelo apresenta um comentário jurídico detalhado acerca do acórdão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) que, em sede de habeas corpus impetrado pela Defensoria Pública do RJ, negou a possibilidade de revisão de cláusulas do Acordo de Não Persecução Penal (ANPP) já homologado, ressalvando apenas hipóteses de flagrante ilegalidade. O texto analisa os fundamentos jurídicos do julgado, com ênfase na vedação ao comportamento contraditório, na boa-fé objetiva e na inadequação do habeas corpus para rediscussão do ANPP. São abordadas as consequências práticas da decisão, elogios e críticas à postura do STJ e as repercussões do entendimento para a uniformização da jurisprudência, destacando-se a valorização da segurança jurídica e a limitação do controle judicial sobre acordos penais consensuais.

Acessar

Análise Jurídica do Acórdão da Quinta Turma do STJ Sobre Trancamento de Inquérito Policial em Caso de Crime Tributário

Análise Jurídica do Acórdão da Quinta Turma do STJ Sobre Trancamento de Inquérito Policial em Caso de Crime Tributário

Publicado em: 26/03/2025 Direito Penal Processo Penal Constitucional Direito Penal Processo Penal Direito Penal Processo Penal

Comentário jurídico detalhado sobre a decisão da Quinta Turma do Superior Tribunal de Justiça (STJ), que negou o trancamento de inquérito policial em caso de suposto crime contra a ordem tributária envolvendo ICMS, destacando os fundamentos jurídicos, jurisprudência aplicada, implicações práticas e críticas à decisão. O documento aborda a excepcionalidade do habeas corpus para trancar inquéritos, a independência entre instâncias penal e tributária, e as consequências para o ordenamento jurídico e investigados.

Acessar

LegJur: A Ferramenta Essencial para Advogados Modernos
Transforme seu escritório de advocacia com informações legais atualizadas e relevantes!

Olá Advogado(a),

Você já pensou sobre o tempo e os recursos que gasta pesquisando leis, jurisprudências e doutrinas para os seus casos? Já se imaginou otimizando esse processo de forma eficiente e segura?

Então, temos algo em comum. O LegJur foi criado pensando em você, no advogado moderno que não pode se dar ao luxo de perder tempo em um mercado tão competitivo.

Por que o LegJur é a solução que você precisa?

1. Conteúdo Atualizado: Nosso banco de dados é atualizado constantemente, oferecendo as informações mais recentes sobre legislações, súmulas e jurisprudências.

2. Fácil Acesso: Uma plataforma simples e intuitiva que você pode acessar de qualquer dispositivo, a qualquer momento. Seu escritório fica tão flexível quanto você.

3. Busca Inteligente: Nosso algoritmo avançado torna sua pesquisa rápida e eficaz, sugerindo temas correlatos e opções para refinar sua busca.

4. Confiabilidade: Nosso time de especialistas trabalha incansavelmente para garantir a qualidade e a confiabilidade das informações disponíveis.

5. Economia de Tempo: Deixe de lado as horas de pesquisa em múltiplas fontes. Aqui, você encontra tudo o que precisa em um só lugar.

Invista no seu maior capital: o tempo

Você já deve saber que o tempo é um dos ativos mais preciosos na advocacia. Utilize o LegJur para maximizar sua eficiência, oferecendo ao seu cliente uma consultoria de alto nível fundamentada em informações confiáveis e atualizadas.

Depoimentos

"O LegJur transformou a forma como faço minha pesquisa jurídica. Agora, posso concentrar-me mais no desenvolvimento de estratégias para meus casos e menos na busca de informações."
— Maria L., Advogada

Não perca mais tempo! Torne-se membro do LegJur e eleve sua prática jurídica a um novo patamar.

Faça parte da evolução na advocacia. Faça parte do LegJur.

Assinatura Mensal

Assine o LegJur e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos! Cancele a qualquer hora.

R$ 29,90

À vista

1 mês

Acesse o LegJur por 1 mês e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 39,90

Parcele em até 3x sem juros

3 meses

Equilave a R$ 39,96 por mês

Acesse o LegJur por 3 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 119,90

Parcele em até 6x sem juros

6 meses

Equilave a R$ 32,48 por mês

Acesse o LegJur por 6 meses e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 194,90

Parcele em até 6x sem juros

12 meses + 2 meses de Brinde

Equilave a R$ 24,90 por mês

Acesse o LegJur por 1 ano e desfrute de acesso ilimitado a um vasto acervo de informações e recursos jurídicos!

R$ 349,90

Parcele em até 10x sem juros