O depósito prévio como requisito para interposição de recurso administrativo em processos envolvendo créditos previdenciários é inexigível, por violar as garantias constitucionais da ampla defesa e do direito de petição, sendo inconstitucional a exigência prevista no art. 126, §§1º e 2º, da Lei 8.213/91, com redação dada pela Lei 9.639/98.
A tese consagra que a imposição de um depósito prévio de percentual do débito como condição para o conhecimento de recurso administrativo viola frontalmente os princípios constitucionais da ampla defesa e do direito de petição. Tal mecanismo obstaculiza o acesso do administrado à instância recursal, criando discriminação em razão da capacidade econômica e frustrando o exercício pleno do direito de defesa no âmbito administrativo. O entendimento foi sedimentado pelo Supremo Tribunal Federal (STF) quando declarou a inconstitucionalidade dos §§1º e 2º do art. 126 da Lei 8.213/91, que exigiam o depósito de 30% do valor cobrado para admissibilidade do recurso administrativo em matéria de crédito previdenciário.
Esta tese possui relevância fundamental para a concretização do acesso à justiça e do devido processo legal no âmbito administrativo tributário, impedindo que restrições econômicas impeçam o pleno exercício do direito de defesa. A decisão reforça o caráter instrumental do direito de petição e assegura a isonomia entre contribuintes, ao vedar discriminações baseadas na capacidade financeira. O reconhecimento da inconstitucionalidade do depósito prévio para recorrer em processos administrativos fiscais pode impactar positivamente outros ramos do direito público, consolidando a orientação de que a defesa administrativa não pode ser condicionada a ônus econômicos não previstos expressamente na Constituição. Em termos práticos, a decisão garante a todos os administrados o direito de recorrer das decisões fiscais sem constrangimentos econômicos, promovendo a efetividade dos direitos fundamentais processuais.
A argumentação jurídica do acórdão é sólida e se ancora em princípios constitucionais centrais do Estado Democrático de Direito, em especial o acesso à justiça, a isonomia e a ampla defesa. O acórdão ressalta que a exigência de depósito prévio implica discriminação ilegítima entre contribuintes e subverte a lógica do contraditório e da ampla defesa, ao impor restrição de ordem econômica incompatível com o devido processo legal. A decisão também destaca a necessidade de respeito à hierarquia das normas, salientando que lei ordinária não pode restringir garantias previstas em lei complementar (CTN) ou na própria Constituição. A uniformização jurisprudencial, determinada pelo CPC/2015, art. 481, parágrafo único, assegura segurança jurídica e coesão interpretativa no sistema judicial. Os reflexos práticos incluem o fortalecimento do controle interno da administração pública e o estímulo ao aprimoramento dos mecanismos recursais administrativos, tornando-os realmente acessíveis e efetivos para todos os administrados, independentemente de sua capacidade econômica.